sexta-feira, 11 de março de 2011

ADAPTAMENTO - # 01 - BRUNA SURFISTINHA


Sem muita “vergonha” ou julgamento de valores, tive curiosidade de ler” O doce veneno do escorpião”, biografia da ex-garota de programa Bruna Surfistinha, sem demagogia, o fiz pela aproximação da exibição do filme, que até agora é o primeiro blockbuster brasileiro do ano. Tentei lê-lo da maneira mais crua possível e me abster de qualquer opinião externa – tarefa difícil no meu caso, pois antes de eu terminá-lo uma pessoa próxima a mim já o tinha feito e tentava “despejar” sua visão do livro. Achei que o conteúdo seria bem mais carregado de escatologias e desventuras sexuais do que realmente foi a começar pelos cortes dos palavrões – que acredito ter sido feito a pedido da editora, posso estar errado. Raquel era uma menina gordinha, que no decorrer de sua adolescência descobre ser adotada, acaba se envolvendo com um rapaz no colégio que propaga que algo teria rolado entre eles- na verdade nada mais que sexo oral – fazendo-a “ganhar fama sem deitar na cama”. Entre outros problemas típicos de um adolescente como complexo de inferioridade por ser “gordinha” – como ela mesma se classificava – sofreu de bulimia e praticava furtos mesmo sem necessidade, pois era de uma família abastada e liberal com relação a dinheiro. Depois de uma briga feia com os pais, decide se tornar garota de programa, e o livro narra os seus serviços, popularização, 15 minutos de fama, o nascimento de seu blog etc. O livro é um depoimento da protagonista a Jorge Tarquini.

O filme que estreou 25 de fevereiro, dirigido pelo estreante no cinema Marcus Baldini. Sobre seu papel, não comprometeu e desempenhou bem seu trabalho, já com relação a protagonista Deborah Secco, houve acertos muito bons e erros tão grandiosos quantos. A atriz é indiscutivelmente sensual, e talvez nesse ponto é que tenha destoado tanto da “Bruna original”. O enredo se focaria mais na vida adulta de Raquel Pacheco, já como garota de programa, mas no começo do filme, ver Deborah vestida tal qual uma menina de 17 anos, torna-se total oposto a menina gordinha complexada “sem peito” e ainda reprimida sexual que era Raquel. A idade poderia ser um problema, pois a atriz hoje teria 31 anos (novembro de 1979) enquanto Bruna Surfistinha teria se aposentado na faixa de 21 anos, e o personagem do irmão que não existia no livro, que só poderia estar ali com uma boa razão, coisa que não acontece... Mas isso passa, licença poética ou liberdade criativa como queira. Mas a falta de enfoque nos complexos de Raquel, a passagem totalmente superficial em seus problemas com furto e cleptomania prejudica a construção do personagem, se houvesse maior enfoque nisso poderia ter maior profundidade. Outro pecado foi a abordagem dos casos bizarros dos clientes, que tiveram seu lado cômico – ótimo- mas pouco explorado em relação a taras, desejos reprimidos dos mesmos e exposição das carências e confissões dos mesmos – fato este que motivaria o interesse da protagonista por psicologia. Um dos motivos que fez a personagem sair de casa foi a necessidade por independência, principalmente dos pais, na película a relação dela com os pais quase que não tem nada de conturbado antes desta sair de casa.

Com relação à nudez, existe e não é gratuita, não há como falar de prostituição sem mostrar o ato em si. Confesso que achei que as cenas seriam abrandadas por ser um filme produzido por um “grupo” que costuma fazer de seus produtos algo bem mais comercial que o de costume, mas continua sendo um “enlatado”, apesar de o tema ser polemico, foi discorrido de maneira rasa, e provavelmente chamou mais atenção pela curiosidade do que pela trama existencial em si. Em determinados momentos – na parte em que a personagem sofre uma “decadência” inexistente até então no livro – quando abusa do uso de drogas, ele tenta demonstrar um pequeno julgamento de valores, tentando demonstrar que o declínio é intimamente relacionado ao proibido, mesmo para alguém que faz “programa”, assim como o final contando a aposentadoria da protagonista... Como dito antes, difere em alguns pontos cruciais do livro, mas em qualidade, é quase equiparado.

PS.: Na minha sessão, a maioria era composta de casais, devidamente tensos.

PS 2.: Para minha surpresa, a única pessoa desacompanhada era uma senhora por volta dos 50 anos, que ao contrário do meu “preconceito” não externou nenhum sinal de desaprovação moral.

2 comentários:

Lucas Vieira disse...

Coincidentemente estou indo assistir ao filme agora. Ô louco, meu. Comentários mais tarde \o

Laiane Santos disse...

O livro, como diria alguém que eu conheço "É altamente" instrutivo...=)